Distrito de Setúbal tem apenas quatro equipas nos nacionais |
Quem vive no distrito de Setúbal
e gosta de acompanhar os clubes locais, tem razões para estar frustrado.
Afinal, a região que outrora foi um viveiro de grandes futebolistas e que se
fazia representar em bom número na I divisão, atualmente está reduzida ao Vitória
no que ao futebol profissional diz respeito. E os próprios sadinos, diga-se de
passagem, vivem com graves problemas financeiros e sob consequente ameaça de
extinção, o que a confirmar-se, deixaria um vazio enorme no futebol a sul do
Tejo.
Custa ver históricos como Fabril
e Amora em patamares tão baixos, o Barreirense pouco estabilizado no Campeonato
de Portugal e o Pinhalnovense a correr o risco de voltar aos distritais quase
duas décadas depois. A salvar a honra do convento está um Cova da Piedade em
ascensão. Veremos se ainda conseguirá atingir a Liga 2 ou se falhará essa meta
como os de Pinhal Novo.
Custa também
ver como grandes concelhos como Seixal, Almada e Barreiro não conseguem catapultar
um clube para as divisões profissionais, onde há equipas como Tondela, Arouca,
Freamunde, Oliveirense ou Mafra, sem história, e de regiões também futebolisticamente
sem nada para contar.
O
argumento utilizado para justificar este cenário é a falta de dinheiro por
estas bandas e abundância do mesmo por outras. Mas já soa a argumento fácil. Já
soa a conformismo. Há sempre espaço para fazer mais e melhor. Desde os próprios
clubes, muitos deles com imenso espaço nos estádios para explorar publicidade,
à AF Setúbal, que nada tem alterado nos seus campeonatos.
Modelo competitivo
Após uma
pesquisa aprofundada, concluí que a 1.ª divisão distrital da AF Setúbal mantém
o modelo de 16 equipas e 30 jornadas, pelo menos, desde o final dos anos 1990. Pergunto:
está a correr assim tão bem para que não sejam feitas alterações? Ou o modelo
continua na mesma há tanto tempo porque simplesmente mudá-lo dá trabalho?
Há
indicadores que sugerem uma mudança. O facto de quem sobe aos nacionais sentir
sempre grandes dificuldades em se manter não pode ser visto apenas como uma
inevitabilidade: É possível dar mais competitividade aos jogadores e às equipas
do distrito. O fosso entre os principais candidatos ao título distrital – nomeadamente
Fabril (ou Barreirense), Amora e Alcochetense – e os principais candidatos à
descida à II divisão é grande, o que até pode ser inevitável face à dimensão e
condições de cada um, mas que pode servir de mote para alterações no modelo
competitivo.
O que
aqui se sugere é simples: Play-Off.
Não é nada de novo no futebol português e é aplicado noutros países com alguma
expressão futebolística na Europa, como Bélgica ou Grécia. Após uma fase
regular em que todos se defrontariam, os seis melhores veriam os seus pontos
reduzidos para metade e disputariam um minicampeonato para disputar a subida. As
restantes equipas lutariam entre si, em moldes semelhantes, para evitar a
despromoção.
Com
esse play-off, as melhores equipas ao
defrontarem-se garantiriam não só uma série de jogos decisivos e apaixonantes,
como receberiam com eles uma bagagem competitiva que prepararia melhor o
campeão para enfrentar os nacionais no ano seguinte. Nem é difícil de imaginar
os participantes, uma vez Fabril ou Barreirense, Alcochetense e Amora têm sido
presença assídua no Top3, com Alfarim, O Grandolense, Comércio e Indústria,
Almada e Banheirense a aparecerem nos últimos anos com grande frequência na
primeira metade da tabela. Mais jogos entre elas só melhorariam as próprias
equipas, a competição e, claro, os jogadores.
Reforço do número de equipas
Apenas 25 equipas participam nos campeonatos da AF Setúbal |
Curiosamente,
esse play-off já está a ser aplicado
na II divisão distrital. Não com o objetivo acima referido, mas com o intuito
de encher chouriços, uma vez que são
nove as equipas participantes. Logo, um campeonato a duas voltas apenas teria
16 jornadas. Assim sendo, as três piores deixam de competir em março e as
restantes seis discutem as duas vagas de acesso à I divisão.
É
triste ver como um distrito com tanta história no futebol se resume a 29
equipas, o que dá uma média de 2,23 por concelho. Muito pouco. Contudo, há dois
dados que não devem passar despercebidos a quem pretende (re)desenvolver a modalidade
na região.
O primeiro
dado prende-se com a inexistência de equipas B. Não há mesmo condições para que
nenhum clube tenha uma formação secundária? É uma fórmula que tem feito sucesso
com os emblemas de maior dimensão, sobretudo com os que não dispõem de um
orçamento muito alto. Seria algo extremamente útil para o Vitória de Setúbal,
mas aparentemente nem os sadinos nem a própria AFS estão a fazer esforços nesse
sentido. E depois há também os clubes de menor dimensão mas que são referências
atuais no futebol de formação distrital, como o Barreirense e o Cova da Piedade,
que também não parecem para aí virados. Em Beja e Évora, Castrense e União de
Montemor, respetivamente, têm os seus bês
a competir na II divisão dos seus distritos.
O
segundo dado é, a meu ver, ainda mais alarmante. O volumoso número de clubes da
região que preferem ter equipas a competir no INATEL do que na AFS: 20!!! Só
mostra que não há falta de paixão pelo futebol, bem pelo contrário. Há muito
querer, mas pouco poder para fazer face às taxas de inscrição na AFS,
organização que aparentemente assiste a isto tudo de forma pávida e serena.
As 20 equipas do distrito de Setúbal que competem no INATEL |
Até
quando os dirigentes da Associação de Futebol de Setúbal vão aguentar sem
arregaçar as mangas? Mãos à obra, senhores! Está na hora de repensar e revitalizar
o futebol sénior no distrito.
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