Vitória sem bata no laboratório de Sánchez


O Vitória foi surpreendido com três golos de bola parada

Liga | Boavista 4-0 Vitória


No futebol, há dois jogos dentro de um só jogo. O da bola corrida, e o da bola parada. No da bola corrida, geralmente a equipa mais valiosa exibe de uma forma mais clara a sua superioridade, traduzindo esse ascendente no número de ataques, remates, cantos e até posse de bola. No da bola parada, a diferença de forças dilui-se e uma equipa menos apta no jogo jogado, mas com um ou dois bons executantes, pode ter argumentos para chegar ao golo.

Esta tese ajuda a explicar o descalabro sadino no Bessa. Logo aos três minutos, um Boavista que para o campeonato não marcava há quatro jogos e não vencia há doze, adiantou-se no marcador face a um positivamente surpreendente Vitória através de um livre executado de forma soberba por Renato Santos.


Os sadinos reagiram, tal como tinham feito na semana anterior em Paços de Ferreira, tendo mais bola, atacando mais, dispondo de mais cantos, mas encontraram pela frente um inspirado Mika na baliza axadrezada.

No segundo tempo a toada prometia continuar, mas na execução de mais um livre, num dos tais lances em que a diferença de forças se dilui, os nortenhos chegam ao 2-0. Desta vez incluiu cruzamento para o interior da área, e cabeceamento certeiro de Gabriel. Ao microscópio, Erwin Sánchez conseguiu encontrar a fórmula para voltar às vitórias, com os sadinos a aparecerem no laboratório boavisteiro sem bata, que é como quem diz, impotentes.

A partir de então, foi o descalabro. Os vitorianos ressentiram-se, perderam a concentração, e foi numa dessas falhas, numa perda de bola de Dani, que surgiu o 3-0. Com o vencedor mais do que encontrado, ainda houve tempo para um quarto golo, fazendo o resultado ganhar contornos de goleada.

Apesar da justificação aqui apresentada aparentemente ilibar o Vitória, equipa técnica e dirigentes têm razões de sobra para refletir.

Quim Machado, que por castigo assistiu ao jogo da bancada, aparentemente preparou mal os seus homens para o perigo das bolas paradas boavisteira, uma vez que sofreu três golos por essa via. O técnico sadino, apesar de ser um dos mais inspiradores da nossa Liga pelo futebol positivo que incute, deve também ser questionado pela preferência em mexer em duas posições – recuo de Fábio Pacheco para central e entrada de Dani para o meio-campo – em vez de simplesmente substituir o suspenso Rúben Semedo por alguém que entrasse diretamente para o eixo defensivo.

William Alves sentiu dificuldades para travar Luisinho
Quanto à direção, deve trabalhar afincadamente para encontrar soluções para reforçar o plantel, neste momento curto em quantidade e em alguns setores também em qualidade. Como se justifica que quando Costinha sai, quem entra para o seu lugar é Ruca, lateral adaptado a extremo? Como se justifica que Arnold não tenha conseguido executar um único cruzamento com qualidade mas fique 90 minutos em campo porque no banco não há quem o possa substituir? É preciso recordar que Zequinha e Uli Dávila saíram na primeira fase da temporada e nenhuns jogadores para as mesmas posições chegaram. Felizmente para os sadinos, não têm havido lesões e o desempenho de Suk ia disfarçando algumas lacunas.



Ficha de jogo


Liga – 18.ª jornada

Estádio do Bessa, no Porto (3.653 espectadores)


Boavista (4x2x3x1): Mika; Tiago Mesquita, Philipe Sampaio, Paulo Vinicius e Hackman; Idris c e Gabriel; Renato Santos (Samu, 86), Rúben Ribeiro e Luisinho (Anderson Carvalho, 73); Iriberri (Zé Manuel, 62)

Suplentes não utilizados: Mamadou Ba (GR), Douglas Abner, Uchebo e Carlos Santos

Treinador: Erwin Sánchez

Disciplina: Cartão amarelo a Philipe Sampaio (14), Hackman (25), Tiago Mesquita (38) e Gabriel (49)


Vitória (4x1x3x2): Raeder; William Alves, Frederico Venâncio c, Fábio Pacheco e Nuno Pinto; Dani; Arnold, André Horta (Paulo Tavares, 72) e Costinha (Ruca, 65); Vasco Costa (Hassan, 59) e André Claro

Suplentes não utilizados: Ricardo (GR), Gorupec, Alexandre e Miguel Lourenço

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Arnold (37), Nuno Pinto (51), Costinha (63), Fábio Pacheco (70), Dani (79) e Paulo Tavares (88)


Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco), assistido por Bertino Miranda e Álvaro Mesquita, com João Matos como 4.º árbitro


Golos


1-0, por Renato Santos (3). Livre de Renato Santos, ligeiramente descaído para a direita, fazendo a bola entrar junto ao poste mais distante de Raeder, que foi ainda traído pelo desvio do esférico no relvado antes de chegar à baliza.

2-0, por Gabriel (52). Livre de Renato Santos, do lado direito, para o interior da área, e ao primeiro poste apareceu Gabriel para cabecear para o fundo das redes.

3-0, por Zé Manuel (66). Dani perdeu uma bola no seu meio-campo para Rúben Ribeiro, que progrediu em velocidade para a área sadina e serviu Zé Manuel, que bateu Raeder.

4-0, por Paulo Vinicius (82). Livre lateral de Renato Santos do lado direito e cabeceamento certeiro de Paulo Vinicius no coração da área.


Estatísticas (Boavista-Vitória)


Posse de bola (%): 47-53

Ataques: 29-33

Remates: 16-10

Cantos: 2-7

Faltas cometidas: 22-20

Foras de jogo: 0-0



Apreciação individual


Raeder: Foi traído pelo desvio da bola no relvado no primeiro golo do Boavista, no qual pareceu mal batido. Não teve responsabilidades nos restantes tentos dos axadrezados e ainda revelou reflexos apurados ao defender um livre de Rúben Ribeiro no qual a bola tocou no relvado antes de chegar à sua baliza (33’).

William Alves: Sentiu dificuldades para controlar o velocíssimo Luisinho, embora o extremo boavisteiro raramente tenha criado perigo. Apoiar o ataque, como se sabe, não é o seu forte.

Frederico Venâncio: Teve a responsabilidade de iniciar boa parte dos ataques da sua equipa, através de passes longos. Uns saíram bem, outros nem tanto. Portou-se bem a defender, sempre bem colocado e atento ao posicionamento dos colegas para os poder dobrar, se necessário.

Fábio Pacheco: Voltou a ser utilizado como central, face ao castigo de Rúben Semedo. Só começou a sentir reais dificuldades após a entrada de Zé Manuel, que lhe arrancou um cartão amarelo. Deixou Paulo Vinicius cabecear à vontade para o 4-0, numa altura em que o resultado estava mais do que definido.

Nuno Pinto: Deu profundidade ao corredor esquerdo e esteve consistente defensivamente. Foi, como habitualmente, um dos homens das bolas paradas. Viu o cartão amarelo aos 51 minutos, por protestar uma falta.

Dani: Entrou nervoso, a perder bolas divididas e a falhar passes, mas foi melhorando com o decorrer da primeira parte. Voltou a estar mal na segunda, pois viu Gabriel cabecear para o 2-0 no seu raio de ação e foi na origem de uma perda de bola sua que o Boavista chegou ao terceiro golo.
Arnold: muita força e vontade, pouco talento

Arnold: Foi amarelado aos 37 minutos por reincidência de incorreções, depois de cometer falta sobre Rúben Ribeiro. Procurou utilizar a sua velocidade e poder de aceleração para ultrapassar os adversários – o que até começa a ser previsível para quem defende… -, mas falhou em toda a linha no momento de colocar a bola no interior da área. Raramente os seus cruzamentos saíram em condições. Muita força, pouco talento. Se o futebol fosse atletismo…


André Horta: Foi vítima do onze bastante ofensivo apresentado por Quim Machado, tendo-se sacrificando muito em tarefas defensivas, aparecendo pouco no apoio ao ataque.

Costinha: Esteve perto de golo através de um livre direto muito colocado, mas Mika conseguiu evitá-lo com uma excelente intervenção (15’). Foi dos mais ativos na manobra ofensiva da sua equipa, procurando aparecer um pouco por todo o lado e executar depressa para dinamizar o ataque sadino. Pouco antes de ser substituído, viu um cartão amarelo que o vai impedir de defrontar a Académica, clube pelo qual passou na formação.

Vasco Costa: Muito apagado.

André Claro: Apareceu bem a finalizar na sequência de um cruzamento rasteiro de Nuno Pinto, mas viu Mika negar-lhe o golo (45+1’). Recuou e movimentou-se para as alas com o intuito de dar soluções ofensivas à equipa, mas não esteve nos seus dias.

Hassan: Teve direito a mais de 30 minutos, mas o desfecho do jogo prejudicou-o, uma vez que entrou numa fase em que o Boavista já tinha a vitória praticamente assegurada e ia gerindo a vantagem através da posse de bola. Ainda assim, ficou na retina um remate forte para defesa de Mika, aos 74 minutos.

Ruca: Foi aposta para os últimos 25 minutos, rendendo o já desgastado Costinha. É alarmante ser um lateral adaptado a extremo a principal solução encontrada no banco para refrescar uma posição que pede acutilância ofensiva. Reforços precisam-se.

Paulo Tavares: Já com 0-3 no marcador, a sua entrada teve o objetivo de evitar males maiores.  



Outras notas


O guarda-redes sadino Ricardo voltou aos treinos na sexta-feira, após recuperar de uma luxação na clavícula direita contraída na partida com o Tondela, a 20 de dezembro. Devido a esse problema físico, falhou os duelos com SC Braga, Sporting e Paços de Ferreira.

Rúben Semedo falha a visita ao Bessa devido a castigo, por ter sido expulso diante do Paços de Ferreira. Quim Machado, também suspenso, não pôde estar no banco.

Segundo o Expresso, o Estado português reclama como créditos seus sobre o Vitória e a sua SAD um total de 25,7 milhões de euros.

O reforço Meyong treinou-se pela primeira vez com o plantel na quarta-feira mas ainda não foi inscrito.

O Atalanta (Itália) tem estado a seguir o médio sadino Costinha, tendo inclusivamente enviado representantes em missão de espionagem para acompanhar o desafio em Paços de Ferreira, na jornada anterior.

O Sampdoria (Itália) está interessado na contratação de André Claro.

O treinador do Vitória, Quim Machado, renovou contrato na quinta-feira até junho de 2017.

Suk foi finalmente oficializado como reforço do FC Porto. Os valores do negócio não foram divulgados.

Segundo apurou o jornalista da RTP Paulo Sérgio, o Vitória vendeu à NOS os direitos de transmissão televisiva dos jogos da equipa de futebol por um valor a rondar os 4 milhões de euros por temporada. Mais do dobro do que recebe atualmente.

Jorge Sousa (AF Porto) estava inicialmente nomeado para apitar o encontro, mas devido a lesão acabou por ser substituído por Carlos Xistra (AF Castelo Branco).

Jorge Jesus admitiu que o Sporting está a tentar recuperar Rúben Semedo ao Vitória no mercado de inverno, tendo em conta a lesão de Tobias Figueiredo.

Nuno Pinto regressou ao Estádio do Bessa, uma vez que foi no Boavista que fez a sua formação e que se estreou na Liga, em 2006/07.

Tengarrinha, a contas com uma rotura dos ligamentos cruzados do joelho esquerdo, falha o reencontro com a sua antiga equipa (em 2010/11 e 2011/12) assim como o resto da temporada.


Costinha estava em risco de exclusão, viu cartão amarelo e falha assim a receção à Académica, na sexta-feira.



Números


André Claro continua a ser o jogador do Vitória com mais minutos na Liga (1531), seguido de perto por Frederico Venâncio (1530).

No confronto direto entre os dois clubes para a Liga, a vantagem é do Boavista: 38 triunfos, 21 empates e 31 desaires em 90 encontros. Se contabilizarmos apenas os encontros no Bessa, os boavisteiros somam 27 vitórias, 13 igualdades e apenas cinco derrotas, no entanto, não venciam os sadinos no Porto há cinco jogos (desde janeiro de 2003).

Na temporada transata, o Vitória só atingiu os 22 pontos à 25.ª jornada e em 34 rondas ficou-se pelos 24 golos marcados (já tem 28 em 2015/16).

Os sadinos já não somavam 22 ou mais pontos à 18.ª jornada desde 2013/14 (22) e não tinham tantos golos (28 ou mais) marcados à mesma ronda desde 1993/94 (29).

O Vitória já não somava três derrotas consecutivas para a Liga desde fevereiro/março do ano passado: 0-3 ante o Benfica na Luz (15/02), 0-1 com o Penafiel no Bonfim (21/02) e 0-3 diante do Nacional na Choupana (01/03).



Outras análises











Vitória – Rio Ave (Oitavos de final da Taça de Portugal): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/12/o-vilao-nao-virou-heroi-mas-nao-merecia.html






Artigos de opinião








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Autor: David Pereira

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