Manuel Correia em entrevista «« "Estamos a trabalhar para que possamos ter uma equipa competitiva para este campeonato"

Publicamos aqui a entrevista concedida, pelo técnico da equipa sénior do Grupo Desportivo Fabril do Barreiro, ao site do clube.

A entrevista que faltava! Manuel Correia, um dos principais rostos da conquista do título do GD Fabril, falou abertamente ao grupodesportivofabril.pt sobre a última época. O técnico, que conseguiu cativar os adeptos do clube fabril, deixou também uma mensagem aos associados.

Qual considera ter sido o momento chave da temporada?
Destaco vários momentos. O primeiro foi logo o dia muito difícil que passámos na última jornada da época anterior, quando injustamente o GDF não conseguiu o acesso ao Campeonato Nacional de Seniores. Foi injusto por tudo o que os jogadores fizeram e pelo facto de termos ficado com os mesmos pontos que a equipa que conseguiu esse objetivo.

A partir desse dia houve um compromisso de todos, da Direção, do treinador e principalmente dos jogadores que quiseram ficar no clube, mesmo quando tinham outras propostas. Eles acreditaram que era possível o GDF subir de Divisão e ser Campeão Distrital.

A disputa dos jogos e vitórias alcançadas frente aos mais diretos concorrentes constituíram outros dos momentos importantes da temporada.

Outro momento que considero chave deu-se quando abdicámos da participação na Lisbon League, prova disputada a meio da semana, e também da Taça da AFS (Associação Futebol Setúbal), que serviu unicamente para dar minutos a jogadores, todos os jogadores no início de época. Termos abandonado a participação na Lisbon League, depois do pedido que fiz ao Presidente, veio a revelar-se uma decisão muito acertada. Foi um pedido que fiz com base na minha experiência como treinador. Isso permitiu-nos passar a estar focados num único objetivo, o de sermos campeões.

Se considerarmos a ordem natural das jornadas (o jogo da 1.ª jornada foi adiado), o GDF esteve no topo do campeonato do primeiro ao último dia. Foi tão fácil quanto parece?
O GDF foi sem dúvida a melhor equipa deste campeonato, o que nos permitiu estar no primeiro lugar praticamente durante toda a prova.

Ganhámos a todas as equipas pelo menos uma vez, tivemos 24 vitórias em 30 possíveis, fomos a equipa que menos golos sofreu, ganhamos todos os jogos em casa, fomos a equipa que mais pontos (75) conseguiu em todos os campeonatos da AFS, desde que existem registos.

Face a estes dados, penso que não podem existir dúvidas de que fomos realmente uns justos campeões.

Pode-se dizer que grande fatia do êxito alcançado residiu na união do grupo?
A união do grupo foi, sem sombra de dúvidas, uma grande arma deste GDF. Mas igualmente a qualidade de treino que os jogadores revelaram durante toda a época. Embora de grande qualidade, alguns desses jogadores nem sempre foram as primeiras opções, mas trabalharam sempre de forma extremamente correta e empenhada, contribuindo para elevar a qualidade do treino.

O treino foi sempre de qualidade e sempre com um único objetivo, o de sermos campeões. E todos eles perceberam que só com qualidade de treino e focados no mesmo objetivo seria possível alcançar o que pretendíamos.

Não existem campeões sem sacrifícios, sem objetivos, sem atitude e sem humildade. E estes jogadores foram fantásticos!

O GDF empatou apenas três dos trinta jogos efetuados no campeonato. Em várias ocasiões, mesmo quando em inferioridade numérica, a equipa jogou claramente à procura dos três pontos. Pensa que essa atitude faz toda a diferença a este nível?
Jogámos algumas vezes em inferioridade numérica, mas para nós essa situação nunca foi um problema, porque sabia com que jogadores contava e que a atitude seria sempre a melhor.

Mas, acima de tudo, nestas situações, o sucesso não resultou do acaso, antes, de muito treino, que permitiu aos jogadores saber como atuar em cada situação. Nós treinámos toda a época situações de inferioridade numérica, simulando essa condição em jogo.

Foram igualmente importantes a atitude e o treino, nada resultou do acaso. Foi porque os jogadores sabiam como proceder nestas situações que fomos capazes de ganhar.

Quanto pesou no grupo o trágico desaparecimento do Tavares?
Houve um momento que nos veio unir ainda mais e dar mais força para alcançarmos o nosso objetivo, que foi a morte inesperada do nosso querido amigo José Tavares.

Tivemos uma semana muito difícil após a sua morte e tivemos que nos unir. Nesse momento efetuámos um compromisso, o de que seríamos campeões em memória do nosso amigo.

Esteja ele onde estiver, esta vitória é para ele; ele fez muito por nós.

Quais foram as equipas que mais frente fizeram ao GDF? E quais as surpresas?
À partida para este campeonato existiam várias equipas que tinham como objetivo serem campeões. No meu entender, estavam entre essas equipas o Alcochetense, o Amora, o Almada, o Grandolense e mesmo o Alfarim e o U. Santiago. Todas estas foram equipas fortes. Naturalmente, com o decurso do campeonato as equipas passaram a ter percursos diferentes. Sobretudo a partir do segundo terço da competição, o Amora e o Alcochetense passaram a ser os dois concorrentes mais diretos, até perderem frente ao GDF já na fase decisiva da prova.
A partir de certa altura o Almada deixou de ser candidato, embora tivesse, no meu entender, bons jogadores. Para mim, o Almada foi uma grande desilusão, pois tinha equipa para fazer melhor.

Por outro lado, o Grandolense terminou o campeonato muito bem e julgo que fez um grande campeonato; na segunda volta só perdeu mesmo com o GDF.

Como surpresa, destaco o Banheirense. A equipa jogou sempre como equipa muito combativa, com alguns jogadores jovens de qualidade, pelo que penso que estão de parabéns; foram campeões do seu campeonato, parabéns.

Pensa que o GDF está finalmente no patamar ajustado à sua realidade atual?
Parece-me que nesta altura o CNS é o patamar que o GDF merece, atendendo às condições de que o Clube dispõe.

Gostaria que mais sócios e adeptos do GDF tivessem uma maior participação e apoio à sua equipa de futebol.

É um Clube com tradição e história no futebol português e para que este Clube consiga alcançar o prestigio de antes, não é suficiente o trabalho da Direção e o empenho dos jogadores.

São os sócios com a paixão e participação que podem fazer deste Clube novamente grande.

O que é que o GDF pode querer da próxima época?
O CNS na próxima época vai ser muito diferente da realidade que tivemos esta época e também diferente do que foi o CNS desta ultima época.

Este ano o GDF parte como uma equipa que veio dos distritais, enquanto grande parte das outras equipas já participaram no CNS, situando-se por isso num patamar já acima. Diferente também porque, na época passada, as equipas que participaram no CNS, umas vieram dos distritais, outras da antiga 3.ª Divisão e poucas da antiga 2.ª Divisão B.

Na época passada quase desde o início se verificou que havia duas equipas que teriam muitas dificuldades em evitar a descida: o Almodôvar e o Esperança de Lagos. Foram equipas que fizeram muito poucos pontos. Praticamente as outras equipas, as que não lutavam para subir, só se teriam que preocupar a não ir à liguilha e, mesmo assim, aí ainda teriam a possibilidade de se manterem, por isso mais fácil.

Para este ano tudo é diferente, tirando as duas outras equipas e a nossa que vieram dos distritais, todas as outras já têm acumulado uma experiência de CNS.

Mas nós acreditamos no trabalho que desenvolvemos durante a época, vamos acreditar que vai ser possível atingir o objetivo para esta época, que passa por ficar no CNS
.
Estamos a trabalhar para que possamos ter uma equipa competitiva para este campeonato.

Por fim…
Quero deixar umas palavras de apreço e agradecimento à Direção do GDF, na pessoa do seu Presidente, por tudo o que nos proporcionou.

Também uma palavra de agradecimento aos meus colaboradores, que foram muito importantes no trabalho ao longo da época, ao Flávio Baía e Hugo Alves.

Uma palavra também ao Luís (técnico de equipamentos), pelas muitas vezes que teve que nos aturar e também porque passou um momento particularmente difícil aquando da morte do seu e nosso grande amigo José Tavares.

E, acima de tudo, aos meus jogadores, os grandes protagonistas desta grande vitória.

Aos jogadores que não vão fazer parte da próxima época, o meu obrigado.


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Autor: F. Santos - Memórias

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