"Levanto-me às nove da manhã e até cerca das 11 da noite a minha vida está reservada ao clube. Faço de tudo aqui, lavo equipamentos, marco o campo, faço inscrições, marco exames médicos, e ainda treino. Fiz o portal na internet, mantenho-o, o emblema fui eu que criei a partir de uma imagem minha a festejar um golo, fiz o desenho todo. É uma coisa que me dá gozo." Disso não há dúvida, aliás nota-se na maneira de falar de Jorge, orgulhoso da sua obra. Esta, por sua vez, está a dar mais um passo importante. Depois de três anos a jogar em campos emprestados, o CSA vai ter, finalmente, casa própria, na Atalaia.
"Nos primeiros anos estivemos a jogar em Santo António da Charneca e na Lançada. Nesse período estive a reunir apoios, ao nível de materiais, para avançar com o campo na Atalaia. Com muito esforço consegui que fosse quase tudo oferecido. A JM Sousa vai dar as torres de iluminação, a Cofersan ofereceu-nos os sanitários, a A. Silva & Silva ofereceu-nos os tijolos necessários. Claro que o meu nome ajuda, tento dizer a estas empresas que o CSA é diferente de qualquer outro clube, pois tem o Jorge Cadete como treinador e isso dá visibilidade. As empresas gostam de apostar onde têm visibilidade e essa é a minha maior contrapartida. O meu site, e o do clube, foi visitado por pessoas de mais de 50 países em todo o mundo..."
Este mês de Setembro é o prazo para ter tudo a funcionar. Jorge Cadete e outros treinadores, e até alguns jogadores mais habilidosos, ajudam nas construções necessárias. Enquanto isso há que alisar o terreno e colocar o relvado natural, pois sintéticos é coisa que Jorge Cadete não aprova.
"Não se vê um jogador ao mais alto nível que tenha sido formado em campos sintéticos, além de que é muito mais caro", sublinha. Mas nem tudo são rosas. Devido a recursos limitados, e a ter de ser Cadete a fazer tudo, as coisas avançam devagar. "Uma das coisas que disse sempre é que aqui são todos voluntários. As mensalidades dos jogadores são para pagar taxas de jogo, e outras despesas. Uma equipa de juniores custa cinco mil euros por ano, e uma de juvenis custa três mil, e isso tudo vem das mensalidades. As coisas desenvolvem-se, não rapidamente, mas a uma velocidade cruzeiro para que não aconteça tudo este ano e desapareça logo no seguinte. Trabalhamos com rigor, com disciplina, a minha preocupação não passa apenas pelo futebol, têm também de se aplicar na escola. Os miúdos sabem que faço tudo por eles, sou o melhor amigo que podem ter, mas quero algo em troca, a aplicação deles. Se quiserem brincar, tudo o que dou tiro logo a seguir. Os prejudicados são eles, não sou eu. Estão na fase de crescimento e formação,têm de se afirmar."
O objectivo é bem claro, levar o clube a ter uma equipa de seniores daqui por três anos, treinada por Cadete, pois claro. Aos 40 anos, a sua ambição é longa, pelo que treinar uma equipa profissional não está fora dos seus horizontes, e o CSA pode ser a rampa de lançamento ideal. Mas quem o quiser terá de vir ter com ele. A filosofia de Jorge Cadete impede-o de andar a "mostrar-se" para estar no mercado. "Já quando era jogador nunca fui de pedir satisfações ao treinador para saber porque não jogava. Assim, como treinador e presidente acho que não sou de observar jogos de outras equipas só para marcar presença. Gosto de atingir as minhas metas pelo meu valor. A maior parte dos miúdos que estão aqui vieram por minha causa." Miúdos. Essa é a palavra chave desde projecto. Os mais velhos nasceram em 1991, sensivelmente a meio da carreira de Cadete no Sporting. O mais natural era que nem se lembrassem de ver o antigo capitão a jogar, mas apenas de histórias contadas pelos pais. É aqui que se nota o efeito da RTP Memória. "Tem alguma piada os miúdos verem os jogos do Sporting e da Selecção Nacional e poderem assim recordar os meus golos que aconteceram antes de eles terem nascido."
Realmente foi pelo Sporting que Cadete se tornou conhecido. Representou vários clubes na carreira, como o Vitória de Setúbal, o Brescia, o Celta de Vigo, o Celtic de Glasgow e o Benfica, mas a memória leva-nos aos tempos de Cadete de leão ao peito. Saiu em 1994 e nunca mais houve um ponta-de-lança português como ele de verde e branco. "No Sporting era sempre criticado, mas marcava golos. Fui o único ponta-de-lança português formado pelas escolas do Sporting que chegou a titular nos seniores, foi capitão de equipa e melhor marcador, depois fui também primeiro português a ser o melhor marcador no estrangeiro, mas as notas de relevo que se fazem à formação do Sporting são apenas relativamente a jogadores como o Quaresma, que esteve meio ano no plantel, ao Dani, Figo, Futre, que nunca jogou nos seniores, ao Cristiano Ronaldo e agora ao trio João Moutinho, Miguel Veloso e Yannick Djálo. Poderá haver jogadores com algumas das minhas características, mas seguramente- sem vaidades - não vejo, nem nunca vi, um jogador que reunisse as minhas qualidades, em termos de agressividade, tempo de salto, velocidade, cabeceamento. Há melhores que eu tecnicamente, mas não gostam de trabalhar. Tinha 18 anos quando fui pela primeira vez a uma discoteca, e enquanto joguei futebol nunca saí à noite em dia de semana, só a seguir aos jogos." Era assim a vida de Cadete, e parece continuar a sê-lo. Goste-se ou não, Jorge Cadete sempre foi um exemplo de dedicação e trabalho. Defendeu as cores da sua camisola sempre com empenho, e é isso mesmo que pede aos atletas que orienta no CSA. O futuro dirá onde o caminho o leva.
Fonte: www.globalnoticias.pt
Imagem: www.cadetesportacademia.com
0 Comentários :
Enviar um comentário