Texto: Grupo Desportivo Fabril do Barreiro no Facebook, publicado por João Ruas
Dirigente da FPF avisa que não se pode castrar a criatividade dos jovens jogadores com táticas excessivas.
Com 12, 13, 14 anos, João Vieira Pinto, Figo, Rui
Costa, e tantos outros já brilhavam nos relvados. Francisco Silveira Ramos,
Diretor Técnico da Federação, acompanha desde a década de 80 o torneio que
junta jovens de todo o país [agora torneio Lopes da Silva]. Lembra-se de todos
estes jogadores e de outros. Uns que singraram e se tornaram profissionais de
futebol e outros que ficaram pelo caminho.
«Lembro-me bem do João Pinto, passou duas vezes
pelo torneio. Era um miúdo vivaço. O Figo deu logo nas vistas, o Rui Costa,
também. O Hugo Viana e o Custódio passaram logo depois para clubes de maior
dimensão. Curiosamente o Cristiano Ronaldo não passou por esta triagem porque
estava lesionado na altura do torneio, mas as pessoas do clube alertaram-nos
por considerarem que ele era um jovem interessante. E houve essa observação»,
conta o dirigente.
E outro exemplo é o de Pizzi, que voltou a estar
presente neste torneio este ano, mas como convidado para falar aos jogadores.
«Quem esteve mais em contacto com ele na altura, chamou a atenção de que aquele
jovem tinha condições diferentes dos outros. Foi para o Sp. Braga logo a seguir
e acabou entretanto por se afirmar e hoje é um jogador de topo».
Mas também houve talentos que se perderam. «Há
muitos jogadores que nestas idades evidenciam já algumas características que
nos parece que vão ser potenciadas para jogadores de alto rendimento. Mas às
vezes enganamo-nos. Ou porque as condições morfológicas dele não foram
favoráveis, ou porque faltou motivação, ou porque o enquadramento não foi tão
potenciador...», frisa.
O perigo de artificializar os jogadores
Na «safra» deste ano, no meio dos 400 jovens com
menos de 14 anos, o dirigente da FPF já encontrou alguns que se destacaram, mas
avisa: Portugal tem estragado alguns talentos ao trabalha-los demasiado. «Não
podemos querer ter jogadores de futebol aos 10, 11, 12, 13 anos de idade. Temos
jogadores de futebol aos 20 anos. Nesta idade são só jogadores da bola. Se
quisermos queimar etapas e introduzir tácticas muito sofisticadas, reduzir a
participação individual dos miúdos, podemos estragar este talento».
«O que caracteriza os jogadores de topo nesta
idade é ter uma grande expressão individual. O que se tem passado em Portugal é
termos os jogadores muito formatados. Alguém é responsável por isso. Temos
jogadores muito amarrados a processos muito rígidos. Se nesta idade não são
todos iguais e daqui a 5 anos forem, há algo errado neste processo», alerta.
«Andam todos à procura de jogadores inventivos,
criativos, com capacidade de improvisação. Nós temos esse jogadores em
Portugal, não os podemos estragar. Não podemos castrar essas competências
individuais, sobretudo do domínio ofensivo, e transformá-los todos em peças de
uma máquina. O futebol é um jogo coletivo, mas é feito de individualidades e
temos até que fomentar essas individualidades», explica.
E se esses talentos forem bem aproveitados, no
futuro não se falará da falta de pontas de lança em Portugal. «Vimos aqui
variadíssimos jogadores com características muito boas para jogar a pontas de
lança agora é preciso que o trabalho para eles seja rico e criativo», adianta o
dirigente.
«O ponta de lança é alguém que tem muitos problemas para resolver no jogo. É toda a gente a querer bater-lhe, roubar-lhe a bola... Ninguém resolve problemas com uma cabeça cheia de constrangimentos e de táticas muito rigorosas. Tem de ter uma grande versatilidade de soluções e não pode estar amarrado a soluções pré-definidas».
A pressão dos pais
Cuidar desses talentos é o papel dos agentes do
futebol, mas também dos pais. «Muitas vezes deixam-se embalar e têm a tendência
de ver no filho um futuro praticante de elite. Mas os miúdos nesta idade têm é
que ser felizes a jogar, têm que viver as fantasias do jogo. Os pais que não
estejam a criar-lhes pressão adicional porque não ajudam nada», garante.
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