No domingo, o Fabril enfrentou o Farense, em jogo da III Divisão. Dois emblemas com tradição, até internacional, que jogam agora longe do estrelato.
A maior parte dos 22.000 lugares do Estádio Alfredo da Silva, no Barreiro, está por preencher. Vinte elementos da claque do Farense, colocados atrás de uma das balizas, destacam-se: empunham bandeiras negras, apoiam os visitantes com cânticos que ecoam nas despidas bancadas de cimento. Francisco Abalroado, ex-jogador e capitão da CUF, está na bancada. "Foi naquela baliza", diz, apontando. "Chutei para a esquerda".
O remate em questão foi feito na tarde de 1 de Dezembro de 1965. A CUF enfrentava o poderoso Milan de Trapattoni e Maldini, em jogo a contar para a Taça das Cidades com Feira. A bancada, agora com vinte adeptos, estava cheia. No último minuto, com o resultado em 1-0, o árbitro assinala penálti a favor dos locais e Abalroado assume a responsabilidade. O capitão não era primeira nem segunda opção para a transformação dos castigos máximos, mas "os habituais marcadores, Espírito Santo e Vieira Dias, tiveram medo". Na baliza, Balzarini tomba para o lado errado. A CUF vencia por 2-0 e, três dias depois, o jornal Record noticiava: David venceu Golias.
A CUF viria a ser eliminada, depois de obrigar o Milan a jogar a "negra" em San Siro, mas a vitória ficou para sempre inscrita na história do clube. Seguiu-se um período de bons resultados. Até 1975, a CUF conquista um terceiro e um quarto lugares no campeonato nacional, para além de outras duas presenças nas competições europeias. Na época de 1975-76, desce de divisão, para nunca mais voltar ao principal escalão do futebol nacional.
José Ferreira, "Conhé" para o mundo do futebol, "nasceu e cresceu na CUF", fazendo parte do plantel de 1970 a 1976. O ex-guarda-redes e treinador adjunto do Vitória de Setúbal relata os factos que, no seu entender, levaram à queda abrupta do agora Fabril: "Em 1975, a comissão de trabalhadores que geria a fábrica obrigou os jogadores a trabalhar e a jogar ao mesmo tempo". Isto porque os atletas auferiam do rendimento de operários, sem desempenhar a profissão. "Éramos privilegiados, de facto, mas a situação poderia ter sido resolvida de outra forma. A partir desse momento, deixámos de ser profissionais", considera.
Nessa altura, a carga política passava por vezes para o futebol. Abalroado relembra uma viagem à Madeira em 1976, para defrontar o Marítimo, em que os locais gritaram: "Fora com os comunistas". Na segunda volta, os habitantes do Barreiro, inclusive adeptos do Barreirense, compareceram em massa, para apoiar a CUF.
Conhé enfrentou o Farense por 12 vezes. Um jogo "sempre equilibrado", entre dois emblemas que agora disputam a terceira divisão nacional. O presidente do Fabril, António Fernandes, elege a qualificação para a fase de subida como objectivo principal. "Estamos a iniciar um ciclo novo, de forma a arranjar bases sólidas de financiamento", garante. O dirigente realça que nem tudo mudou. Embora o clube esteja afastado dos maiores palcos nacionais, "mantém a vertente ecléctica".
O Farense venceu por 3-0, alcançando a segunda vitória no Barreiro, num total de 10 confrontos. Para o treinador do Fabril, Alfredo Almeida, os jogadores não se apercebem da carga histórica deste confronto: "Sabem o percurso do Fabril, mas para eles é mais uma curiosidade histórica - não acredito que algum diga que joga na antiga CUF".
Fonte: Público
A maior parte dos 22.000 lugares do Estádio Alfredo da Silva, no Barreiro, está por preencher. Vinte elementos da claque do Farense, colocados atrás de uma das balizas, destacam-se: empunham bandeiras negras, apoiam os visitantes com cânticos que ecoam nas despidas bancadas de cimento. Francisco Abalroado, ex-jogador e capitão da CUF, está na bancada. "Foi naquela baliza", diz, apontando. "Chutei para a esquerda".
O remate em questão foi feito na tarde de 1 de Dezembro de 1965. A CUF enfrentava o poderoso Milan de Trapattoni e Maldini, em jogo a contar para a Taça das Cidades com Feira. A bancada, agora com vinte adeptos, estava cheia. No último minuto, com o resultado em 1-0, o árbitro assinala penálti a favor dos locais e Abalroado assume a responsabilidade. O capitão não era primeira nem segunda opção para a transformação dos castigos máximos, mas "os habituais marcadores, Espírito Santo e Vieira Dias, tiveram medo". Na baliza, Balzarini tomba para o lado errado. A CUF vencia por 2-0 e, três dias depois, o jornal Record noticiava: David venceu Golias.
A CUF viria a ser eliminada, depois de obrigar o Milan a jogar a "negra" em San Siro, mas a vitória ficou para sempre inscrita na história do clube. Seguiu-se um período de bons resultados. Até 1975, a CUF conquista um terceiro e um quarto lugares no campeonato nacional, para além de outras duas presenças nas competições europeias. Na época de 1975-76, desce de divisão, para nunca mais voltar ao principal escalão do futebol nacional.
José Ferreira, "Conhé" para o mundo do futebol, "nasceu e cresceu na CUF", fazendo parte do plantel de 1970 a 1976. O ex-guarda-redes e treinador adjunto do Vitória de Setúbal relata os factos que, no seu entender, levaram à queda abrupta do agora Fabril: "Em 1975, a comissão de trabalhadores que geria a fábrica obrigou os jogadores a trabalhar e a jogar ao mesmo tempo". Isto porque os atletas auferiam do rendimento de operários, sem desempenhar a profissão. "Éramos privilegiados, de facto, mas a situação poderia ter sido resolvida de outra forma. A partir desse momento, deixámos de ser profissionais", considera.
Nessa altura, a carga política passava por vezes para o futebol. Abalroado relembra uma viagem à Madeira em 1976, para defrontar o Marítimo, em que os locais gritaram: "Fora com os comunistas". Na segunda volta, os habitantes do Barreiro, inclusive adeptos do Barreirense, compareceram em massa, para apoiar a CUF.
Conhé enfrentou o Farense por 12 vezes. Um jogo "sempre equilibrado", entre dois emblemas que agora disputam a terceira divisão nacional. O presidente do Fabril, António Fernandes, elege a qualificação para a fase de subida como objectivo principal. "Estamos a iniciar um ciclo novo, de forma a arranjar bases sólidas de financiamento", garante. O dirigente realça que nem tudo mudou. Embora o clube esteja afastado dos maiores palcos nacionais, "mantém a vertente ecléctica".
O Farense venceu por 3-0, alcançando a segunda vitória no Barreiro, num total de 10 confrontos. Para o treinador do Fabril, Alfredo Almeida, os jogadores não se apercebem da carga histórica deste confronto: "Sabem o percurso do Fabril, mas para eles é mais uma curiosidade histórica - não acredito que algum diga que joga na antiga CUF".
Fonte: Público
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